A CASSETA CRESCE (OPA!)
Na faculdade de engenharia da UFRJ ainda fizemos mais alguns números mimeografados da Casseta Popular, até que no final de 1983, eu, Helio e Marcelo nos formamos. Sim, nós conseguimos nos formar! Agora éramos Engenheiros de Produção! Engenheiros de verdade, com o canudo na mão. (Sem trocadilho!)
Assim que me formei fui contratado como engenheiro numa empresa chamada Tecnometal, onde já estagiava. Agora o trabalho era sério, eu não era mais estagiário de meio período, eu era engenheiro, carteira assinada, expediente integral. Fiquei nessa empresa por pouco tempo, logo fui para outra, a Result, uma empresa de consultoria, onde me adaptei muito bem. O Helio foi trabalhar na Promon e o Marcelo, no BNDES.
No entanto, a ideia de parar de escrever a Casseta não passou nem perto. A gente queria continuar, mesmo que fosse apenas como um Hobbie. Mas não dava mais para fazer aqueles panfletinhos de humor que lançamos na faculdade. Agora, fora da Universidade, a gente tinha que partir para algo maior, a Casseta precisava crescer! (com trocadilho, por favor!).
O país também estava em um momento de total efervescência, a ditadura estava no seu finalzinho, o movimento das Diretas Já tomando conta do país, a censura da ditadura acabando, tudo que antes era proibido estava saindo da toca, indo para o ar livre, a gente tinha que continuar! Não dava para deixar de publicar a Casseta naquele momento, o jornalzinho, mesmo sendo um panfleto mimeografado já fazia muito sucesso, o que a gente fazia era diferente de tudo o que havia, imagina se aumentássemos o material?
Então decidimos que já era hora de virar jornal de verdade, sair da vidinha do mimeógrafo e ir para o maravilhoso mundo do papel jornal. A Casseta, assim como nós, tinha que passar para uma próxima fase na vida. Decidimos que a Casseta passaria a sair no formato tabloide, o mesmo formato do Pasquim e dos vários jornais alternativos que havia na época. E seria uma possibilidade de um dia, quem sabe, vai que rola, vender em bancas de jornal.
Se queríamos continuar a lançar a Casseta, agora no novo formato, que exigia ainda mais trabalho e, principalmente, mais textos, era preciso chamar mais gente, tínhamos que dar um gás na Redação. Os candidatos naturais a serem chamados eram óbvios para a gente naquele momento: o Claudio Manoel, o Bussunda e o Roni Bala. Por que naturais e óbvios? Porque eles já eram nossos amigos nessa época. O Claudio e o Bussunda tinham estudado com o Marcelo no Aplicação. Claudio era da mesma sala do Marcelo, o Bussunda era mais novo, mas já era uma figura. Os dois e mais o Roni tinham frequentado junto com o Marcelo a mesma colônia de férias, a Kinderland. O Marcelo apresentou os três a mim e ao Hélio, assim que entramos na faculdade e ficamos muito amigos. Frequentávamos o mesmo point na praia de Ipanema, carioca se encontra na praia. Depois da praia saíamos juntos todos os fins de semana, éramos uma turma inseparável. Claudio, Bussunda e Roni entraram para a redação como se fossem antigos, ficaram a vontade e a Casseta passou a ser formada por nós seis.
A primeira Casseta Popular nesse formato de tablóide, com mais cara de jornal de verdade, foi lançada no meio de 1984. Mesmo tirando onda de jornal de verdade, ela ainda era bem mambembe e não a vendíamos na banca, ainda era aquele sistema de vender de mão em mão, a vantagem era que agora tínhamos mais mãos para fazer isso. A capa da nova Casseta era essa aqui:
A manchete era “Não adianta balançar o careca” com o comentário entre parêntesis: “O último pingo é sempre da cueca”. O Careca em questão era o Espiridião Amin, um político da época.
O preço do jornalzinho era de 250 cruzeiros, a moeda da época. Não sei quanto isso seria hoje, mas era barato. Ainda na capa a explicação: “Um jornal que não faz número. Uma publicação eventual” . E não era mentira, era eventual mesmo, foi o único número lançado naquele ano.
A contracapa, que bem poderia ter disso a capa, porque fez muito sucesso era essa...
Dentro do jornal havia um Bula explicando como se deveria ler a Casseta, com instruções como: “Leia somente o que está escrito, não tente pensar sobre o que estamos pensando, você não vai conseguir.”
A coluna social era a Coluna Prestes, o comunista social.
Na página central uma matéria grande: “A Biblia – sinopse da 593482764327ª edição revisada e atualizada”, com os capítulos Genesis, depois Yes, Supertramp, Rolling Stones, Beatles, fechando com Tim Maia e Sandra de Sá...
Havia alguns anúncios falsos, um prenúncio do que faríamos depois no TV Pirata e no Casseta & Planeta Urgente. Como esse aqui...
Por falar em prenúncio do que viria, um texto que anos depois deu origem ao famoso quadro do Maçaranduba no Casseta & Planeta Urgente, já aparecia nesse primeiro tabloide ... Se chamava “Tem que correr, tem que malhar” e era uma página do diário de um sujeito que fazia parte de um bando de fortões que gostavam sair pela rua dando porrada nos outros. Algo que andava acontecendo na época e que acho que nunca parou. Um trechinho:
“Aí o Freysson lembrou que sabia de uma festinha. Uma menina fazia 15 anos e ia comemorar no playground do seu edifício. E ele nunca porrou ninguém ali, tirando o filho do porteiro, o síndico, o faxineiro e a família do 304…”
Havia no jornalzinho também um texto meu, que explicava como funcionavam os bonequinhos quando se tratava de dar cotação de filmes pornográficos.
Era um estilo de humor diferente de tudo que havia, bem provocativo, iconoclasta e politicamente incorreto, não havia ainda essa discussão. Na verdade, com a ditadura já no finzinho, era época de colocar tudo pra fora!
O jornal fez sucesso, era comentado e consideramos a experiência super bem sucedida. Era preciso continuar e melhorar ainda mais.
NÃO PERCA NA PRÓXIMA SEMANA:
OS OUTROS TABLOIDES - A Casseta Popular evolui mais. A ideia de virar revista.
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Me divirto a cada paragrafo, pena que na época era bem criança. Queria ter tido a chance de ler os originais.
Sabe do que lembrei? Da "jeba descomunal do Kowalski"!!!! Não tinha isso? Kkkkkkk