Em 1985 o Brasil estava pegando fogo. A ditadura estava tirando o corpo fora, Figueiredo saiu pela porta dos fundos do Palácio da Alvorada pedindo para o povo o esquecer, mas os milicos não admitiam que acontecessem eleições diretas. Tancredo ganhou no colégio eleitoral, mas morreu antes da posse. Resultado: assumiu o vice José Sarney, ô país azarado! Nós acompanhamos toda essa confusão lançando mais dois exemplares em formato tabloide, os dois no primeiro semestre de 1985. Mas, ao contrário dos vários jornais alternativos que falavam só de política, a Casseta falava de tudo, até de política!
Se os jornais mimeografados da faculdade foram a infância da Casseta Popular, essa fase do jornal tabloide pode ser considerada a adolescência da publicação. A Casseta Popular não tinha uma periodicidade definida, não era semanal, nem mensal, nem bimensal, saia quando a gente conseguia arranjar material e grana para publicá-la, ou seja, de vez em quando, portanto dizíamos que era uma publicação “De-vez-em-quandal”.
A capa do primeiro exemplar que lançamos nesse ano foi essa:
Na capa o preço: 800 paus. Mas com as ressalvas: Eunápolis, Vitória, Lumiar , Ilha do Mel e Programadores de Cobol: 1.200 Cruzeiros.
Nessa época eu trabalhava numa empresa de consultoria, a Result, que fazia sistemas informatizados para empresas, quase sempre usando uma linguagem de computador chamada Cobol. Portanto, a mensagem sobre o preço especial da capa era uma sacanagem interna comigo.
No miolo, entre vários textos, um sobre adolescência, chamado E A GENTE FICAVA NA MÃO. Um trechinho:
“O adolescente, assim como o peixe, tem muitas espinhas. Contudo para diferenciar um do outro, não se deve cheirá-los (pode ser um adolescente mal lavado), basta olhar para baixo, pois o peixe não usa tênis All-Star.”
Um texto central indicava AS SAÍDAS PARA O BRASIL, com “propostas revolucionarias para um novo porvir”, trazendo ideias para a Indústria, Minas e Energia, Transportes, Agricultura... Na área de Energia o texto dizia:
“Pô, bicho é só pegar esse pessoal que tem o maior astral, que passa a maior energia, que transa mesmo a transa do corpo, botar uma lâmpada na boca de cada um e fazer desse país um palco iluminado.”
E ao final, propostas para criação de novos postos ministeriais: A Secretaria Extraordinária de Esporte e Lazer. A Secretaria Ma-ra-vi-lho-sa de Chope e Fritas e A Secretaria do Caralho de Sacanagem e Folia
O jornal, mais uma vez vendido de mão em mão, em festinhas, shows, no baixo Leblon, no baixo Gávea, onde houvesse um evento. Havia um boca-a-boca grande e o jornal já estava mais conhecido , principalmente no Rio de Janeiro.
Animados, logo lançamos mais um exemplar. Apesar de ter sido lançado pouco meses após, custava 2000 paus, mais do dobro do anterior. O preço já indicava um dos legados da ditadura: a hiperinflação, que tomaria conta do país nos próximos anos.
A capa era essa:
No cantinho, uma recomendação: “Mantenha fora do alcance dos médicos. Em caso de ingestão, chame uma criança.”
Entre as matérias uma sátira ao festival que iria sacudir o Rio de Janeiro no final daquele ano, o Rock in Rio. O nosso era bem melhor, era o Brega in Rio.
E uma propaganda de uma loja de artigos para passeatas: a Chez Guevara
Esse número já trazia como novidade uma programação visual mais elaborada, que agora não era mais feita por nós mesmos, mas por gente que manjava do riscado, a dupla Ivan e Marcelo, que deram uma cara bem mais limpa ao jornal.
O jornal era assinado por seis pessoas: Beto Silva, Helio de la Peña, Claude Mañel, Bussunda, Marcelo Madureira e Roni Bala. Havia uma pequena biografia de cada um, mas totalmente ficcional, quase surrealista.
Em algum momento, não me lembro se nesse ano ou no início do ano seguinte, paramos de nos reunir na casa de alguém e alugamos uma sala, que ficava no Centro, na rua 13 de maio, perto da Cinelândia. Não sei de onde veio a grana para isso, mas se deu para o aluguel, não sobrou muito para o mobiliário, que era qualquer coisa. Bem de acordo com o jornal que publicávamos.
No entanto, uma questão nos preocupava. No final de 1984 apareceu nas bancas de jornal uma nova publicação. Era um jornal de humor que se chamava O Planeta Diário. É claro que nas discussão internas nós desdenhamos, mas isso foi só até ler o jornal. O problema é que ele era bom! Era diferente da Casseta, mas muito engraçado. A nossa primeira reação foi ficar putos. Como assim? A gente há anos fazendo o nosso humor escrachado e, de repente, do nada, aparece um jornal na banca! E bem-feito! E agora, o que fazer? Cogitamos um atentado, mas achamos melhor uma saída pacífica. Conhecemos os caras que faziam o Planeta Diário, O Hubert, o Reinaldo e o Claudio Paiva. Os caras eram gente boa, ficamos amigos. De verdade, não era um plano diabólico. Eles iriam nos ajudar a realizar o nosso sonho: Alcançar as bancas de jornal!
NÃO PERCA NA PRÓXIMA SEMANA:
A PRIMEIRA REVISTA CASSETA POPULAR - Finalmente a Casseta Popular chega as bancas de jornal.
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Brega in Rio lembro que virou sketch do TV Pirata. A cara da Louise Cardoso era impagável
Beto, algum plano de reeditar as edições passadas? Adoraria ler. Abraços!